20 de jul. de 2008

Relacionamento Familiar e TDAH

Um estudo qualitativo, voltado para compreender melhor um distúrbio que atinge entre 5% e 13% das crianças e jovens em todo o mundo, foi desenvolvido pela psicóloga Vânia Lúcia de Morais Ribeiro junto ao Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde da Faculdade de Medicina da UFMG.

A pesquisadora entrevistou 18 famílias, todas responsáveis por crianças e adolescentes – com idade entre 7 e 16 anos – portadores de transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH).

O objetivo foi investigar como anda o relacionamento sócio-afetivo dessas famílias, assim como também compreender o porquê dessas famílias tomarem algumas ações no dia-a-dia.

“Acreditamos que conhecer o ponto de vista dos pais, suas dificuldades, crenças, valores, atitudes, tendências e percepções, possa nos ajudar a compreender melhor este fenômeno, que vem crescendo em nossa sociedade”, afirma a pesquisadora.

O princípio é o de que a família do portador de TDAH é o primeiro núcleo responsável pela preparação desses indivíduos para a vida social, para o mundo e para o futuro. “Por isso, ela é o alvo de atenção de nosso estudo”, afirma.

O estudo constatou que o relacionamento entre os membros dessas famílias é muito difícil. Um dos motivos é o alto nível de estresse a que ambos são submetidos diariamente, e que pode influenciar suas vidas de forma marcante.

Pessoas com TDAH podem ser talentosas, criativas e bem sucedidas, mas sem ajuda adequada podem não conseguir superar suas limitações, acumulando frustrações que, ao longo da vida, poderão gerar quadros mais graves como a depressão e os transtornos de ansiedade.

A análise dos dados mostra que as dificuldades impostas pelo TDAH para a condução da educação dos filhos somadas às dificuldades sociais e escolares podem resultar em condutas inadequadas na educação das crianças.

Também ocorrem maus tratos físicos e emocionais por parte dos pais e professores, além de haver exclusão e discriminação contra as crianças e suas famílias. “O sistema de saúde também parece estar despreparado para lidar como problema”, diz a psicóloga.

Segundo Vânia de Morais, um diagnóstico correto já tem um impacto positivo no relacionamento familiar, uma vez que ameniza o sentimento de culpa, tanto dos pais quanto dos filhos pelos comportamentos inadequados, diminuindo assim a hostilidade entre eles.

Principais aspectos
A desatenção faz com que as pessoas com a doença vivam no “mundo da lua”, elas se distraem com qualquer estímulo, são esquecidas, perdem objetos e até se perdem nos trajetos, são desorganizados no tempo e no espaço.

É possível reconhecer os sintomas da hiperatividade na criança pelo comportamento inquieto e constante que a impele a não ficar quieta: escalar móveis, correr pela casa, quebrar objetos, falar sem parar, não se fixar em lugar algum nem se ater em nenhuma atividade.

Em certa medida, todos esses sintomas são comuns em crianças e em vários adultos modernos. A diferença é que os hiperativos apresentam esses sintomas exageradamente.

Tanto na criança quanto no adulto, a impulsividade se manifesta em comportamentos irrefletidos, às vezes arriscados, na impaciência, na dificuldade em adiar a gratificação.

Estes sintomas criam muitas dificuldades para o portador e para quem convive com ele, gerando conflitos, rompimento de vínculos e instabilidade profissional e afetiva em suas vidas.

Capacitação como solução
“Uma solução é a melhor capacitação dos profissionais de saúde, para um diagnóstico cada vez mais precoce e o devido encaminhamento para tratamento”.

Vânia de Morais ressalta também a necessidade de os profissionais que lidam com hiperativos serem capazes de identificar maus tratos contra seus clientes. “Além disso, os familiares, freqüentemente também precisam de tratamento e de orientação sobre como lidar com as crianças e seus sintomas”, adverte.

Na escola
A capacitação dos profissionais de educação é também muito importante para que os portadores e seus familiares encontrem apoio na escola.

O melhor preparo dos professores e demais trabalhadores do ensino facilita o aprendizado e o relacionamento das crianças com colegas e profissionais da escola, diminuindo os abusos.

“A partir do diagnóstico e com o tratamento adequado os sintomas deste distúrbio podem ser controlados e o indivíduo levar uma vida normal”, explica, orientando tratamento medicamentoso e psicoterápico: “a terapia cognitivo-comportamental é a abordagem mais indicada”.

Ela reforça que proporcionar meios para a melhoria da qualidade de vida das famílias contribui para a formação dos portadores e para a prevenção da violência contra eles.

“O impacto disso em nossa sociedade pode ser considerável, levando-se em conta o número crescente de pessoas diagnosticadas que, acredita-se, seja uma pequena parcela dos portadores”, diz, chamando a atenção para um efeito colateral: “a violência doméstica contribui para a violência social. “Junto com os acidentes, são a primeira causa de mortalidade na infância e na adolescência”, alerta.

Serviço
Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde
Título: A Família e a criança/adolescente com TDAH: relacionamento intrafamiliar e social.
Área de Concentração: Saúde da Criança e do Adolescente
Nível: Mestrado
Aluna: Vânia Lúcia de Morais Ribeiro
Banca Examinadora:
Profª. Janete Ricas/Orientadora – UFMG
Prof. José Carlos Cavalheiro da Silveira/Co-orientador – UFMG
Prof. Bruno José Barcellos Fontanella – UFSCAR
Profª. Juliana Gurgel Giannetti – UFMG
Data da defesa: 30 de maio de 2008

Redação: Marcus Vinicius dos Santos – Jornalista